Historicamente, a ilustração pode ser compreendida como a simbiose e interação entre as palavras (discurso escrito) e a imagem, ou seja, formata o discurso visual, acompanhante do primeiro.
As ilustrações são pois imagens, em génese desenhadas (como acontecia nas primeiras publicações herbalistas, dedicadas às plantas, ou bestiários, se dedicados aos animais), atuando como auxiliares visuais e com uma clara função prática e/ou didática — mais que adonar um texto, elucidam a sua narrativa — ou seja, são elas próprias unidades narrativas e preciosos auxiliares para a efetividade da comunicação de informação (combatem a iliteracia).
Nesse sentido, podem ser entendidas como uma qualquer imagem criada propositadamente para descrever, registar e comunicar as complexidades da Vida. Assim, a “raison d’être” de uma qualquer ilustração é a de obedecer a um plano e um objetivo pré-definidos, de forma a garantir a comunicação visual de uma mensagem contextualizada e específica para uma audiência.
Quando é necessário codificar essa mensagem em traço e mancha, garantindo simultaneamente a sua funcionalidade a par com a estética, então podemos ir mais além do conceito de simples documento pictórico, ou iconográfico (que encerra informação codificada em traço e cor, ou parcelas de informação articuladas), o qual também é preciso saber ler (literacia visual).
Em suma, uma ilustração faz parte de uma linguagem visual particular, adaptada estrategicamente ao público-alvo específico a que se destina, e é construída sempre tendo em conta o contexto da mensagem e a eficácia da sua transmissão (serve um propósito), de modo a quebrar/ultrapassar barreiras geográficas, idiomáticas, sociais, culturais ou outras.
Uma das ilações mais imediatas é que uma ilustração pode ser um desenho, uma pintura, uma fotografia, uma colagem ou qualquer outro tipo e natureza de imagem estática, capaz de cumprir a função para a qual foi criada.
Assim, para criar uma imagem funcional, enfática, longeva e perene, todos os métodos e técnicas de expressão plástica passíveis de a gerar são igualmente válidos. Contudo, o desenho é, desde os primeiros tempos, a ferramenta que concretiza, que organiza, compõe e cria uma composição (leia-se, desenho ou design).
O desenho é então o elemento nuclear, unificador e basilar desta equação científica (ilustração). Organiza e estrutura o pensamento (desenho mental, interno), corporiza a ideia e materializa uma realidade/ação, ou parte, observável ou não (interna e não invasiva, espacial, temporal extinta ou não, etc.), e externa ao autor-desenhador (por vezes, o cientista, que a descreve, pormenoriza ou dirige, acompanhando o trabalho do ilustrador).
Como Stephen J. Gould categoricamente sintetizou (Bully for Brontosaurus: reflections in natural history. New York: W. W. Norton & Company,1992) — Scientific illustrations are not frills or summaries: they are foci for modes of thought.