… uma emulsão de percepções e emoções
(Diário de Aveiro, Ano 27, nº 9098, 21 de março 2013. © Fernando Correia. TODOS OS DIREITOS RESERVADOS)
A Ciência e a Arte enquanto realizações culturais do ser humano, são dois conceitos/processos/instrumentos que nos permitem quebrar barreiras instituídas e ir sempre mais além na procura do Conhecimento daquilo que nos rodeia e, também, do autoconhecimento.
São duas formas ideologicamente diferentes de ver, percecionar ou entender, o Eu/Indivíduo e o Mundo exterior a este (não-eu). A primeira, esmiúça e procura a sua objetiva compreensão eminentemente através da Razão; a segunda, através da excitação da sensibilidade induzida pela Estética da coisa que foi produzida.
A unir ambas a necessidade de especialização exigida a quem trabalha na Ciência e na Arte, os quais, ao longo da sua maturação na área do saber em que se pretendem consagrar, se tornam peritos “especiais”, ou seja iluminados especial”istas”: os art”istas”, se instruídos em Arte, e os cient”istas”, se ilustrados em Ciência.
Na verdade, ambos os especialistas se debruçam e dão forma ao pensamento, à percepção inteletual, isto é, à Ideia. É esse o elemento primordial que está na base destes dois campos de exploração do desconhecido, na procura da descoberta da(s) “verdade(s)” — isso sim, fazendo uso de conceitos e sistemas, de métodos e metodologias diferentes para maturar, compreender, classificar e representar essa Ideia/Realidade em produtos dela projetados ou derivados.
É no meio termo, na fronteira entre a liberdade sem restrições de uma Criatividade subjetiva e a espartilhada, objetiva, analítica e sintética Razão, que a Ilustração Científica parece se situar.
Mas na verdade é mais Ciência que Arte.
De fato, mais que um movimento, manifestação ou expressão artística, é o resultado de uma partilha de conhecimentos e experiências na procura de um bem maior. Na realidade, é um compromisso de Ideias que se discutem, na tentativa de encontrar um consenso partilhado entre a visão da “realidade” a comunicar pelo cientista (tese) e a visualização construída/operada pelo ilustrador (materialização imagética de uma re-interpretação).
Ilustrar a ciência com imagens é pois refletir e investigar ainda mais o que já foi estudado (sob outro prisma), digerir o complexo e focalizar no pertinente para aquele momento ou audiência a que se destina — mas nunca abandona a esfera da Ciência, evolutivamente sempre a testar-se a si própria. A imagem científica acompanha o fado do conhecimento científico, sendo válida, até prova em contrário.
No sentido diametralmente oposto, tanto o cientista como o artista se podem apropriar do tema científico, como musa inspiradora, para extravasar e explorar a sua componente lúdica ou estética, procurando sublimar o Belo, sobre todo os outros domínios. Mas aí abre-se a porta para um outro admirável mundo sempre novo — a sublime e perene Arte do espírito humano…